Naquela época casou-se com um rico comerciante de
Andros que, falecendo em breve, deixou-lhe uma rica herança e uma filha,
Cleis, que a mãe assim definia: "
dourada flor que eu não trocaria por toda a Lídia, nem pela formosa Lesbos".
Após cinco anos exilada, volta para Lesbos, onde logo se torna a líder da sociedade local, no plano intelectual. Sedutora, não dotada da beleza na concepção grega da época (embora
Sócrates a houvesse denominado "
A Bela"), Safo era baixa e magra, olhos e cabelos negros, e de refinada elegância, viúva e vivendo numa sociedade que não tinha regras morais como hoje se concebem.
A escola de Safo - o amor em Lesbos
Concebeu Safo uma escola para moças, onde lecionaria a poesia, dança e música - considerada a primeira "escola de aperfeiçoamento" da história. Ali as discípulas eram chamadas de
hetairai (amigas) e não alunas. A mestra apaixona-se por suas amigas, todas. Dentre elas, aquela que viria a tornar-se sua maior amante,
Atis - a favorita, que descrevia sua mestra como vestida em ouro e púrpura, coroada de flores. Mas Atis apaixona-se por um moço e, com ciúmes, Safo dedica-lhe os versos:
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- "Semelhante aos deuses parece-me que há de ser o feliz
- mancebo que, sentado à tua frente, ou ao teu lado,
- te contemple e, em silêncio, te ouça a argêntea voz
- e o riso abafado do amor. Oh, isso - isso só - é bastante
- para ferir-me o perturbado coração, fazendo-o tremer
- dentro do meu peito!
- Pois basta que, por um instante, eu te veja
- para que, como por magia, minha voz emudeça;
- sim, basta isso, para que minha língua se paralise,
- e eu sinta sob a carne impalpável fogo
- a incendiar-me as entranhas.
- Meus olhos ficam cegos e um fragor de ondas
- soa-me aos ouvidos;
- o suor desce-me em rios pelo corpo, um tremor (…)
A aluna foi retirada da escola por seus pais, e Safo escreve que "seria bem melhor para mim se tivesse morrido"
A morte controversa
Safo, por Charles-August Mengin (
1877)
Tantos milênios passaram-se após a vida desta figura feminina excepcional, que a humanidade viveu momentos de glória e desprezo sobre sua arte e personalidade. Em
1073 suas obras, junto com as de Alceu, foram queimadas em
Constantinopla e em
Roma. Mas foram redescobertas poesias dela em
1897.
Safo foi chamada de "
cortesã" (
prostituta), por
Suidas. E contavam que havia se suicidado pulando de um precipício na ilha de
Leucas, apaixonada pelo marinheiro
Faonte - fato que é descrito também em
Menandro,
Estrabão e
Ovídio. Mas há consenso de que isto seja verdadeiramente
mítico. Escritos sobreviventes dão Safo como tendo atingindo a velhice, e o certo é que não se sabe como nem quando ela morreu, sendo considerada por alguns a maior de todas as poetisas.
Sua poesia era considerada das mais sublimes. Dentre os gregos que lhe foram contemporâneos e pósteros, Safo era considerada uma dos chamados "
Nove Poetas Líricos" (os outros eram:
Álcman, Alceu,
Estesícoro,
Íbico,
Anacreonte,
Simônides,
Píndaro e
Baquílides). Estrabão escrevera que "
Safo era maravilhosa pois em todos os tempos que temos conhecimento não sei de outra mulher que a ela se tenha comparado, ainda que de leve, em matéria de talento poético."
Assim como
Homero era conhecido como "
o Poeta", Safo era conhecida como "
a Poetisa".
Narram, ainda, os historiadores, que tendo
Excetides declamado um canto de louvor a Safo para Sólon, seu tio, este pediu que o moço o ensinasse todo, de tanto que o agradou. Alguém então perguntou-lhe para quê queria tal coisa, ao que o célebre jurista respondeu: "
Quero aprendê-lo, e depois morrer!"
Mas nenhum
epigrama foi mais próximo ao êxtase que seus versos provocavam do que este:
| Há quem afirme serem nove as musas. Que erro!
Pois não vêem que Safo de Lesbos é a décima?
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